quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Pinball Meteorológico

Texto de David Herring, Wayne Higgins e Mike Halpert (NOAA). Versão original em:

http://www.climatewatch.noaa.gov/2010/articles/can-record-snowstorms-global-warming-coexist


O tempo (meteorológico) e o clima descrevem o comportamento das variáveis
ambientais, mas para diferentes escalas de tempo e espaço. Enquanto meteorologistas
prevêem as condições meteorológicas para um determinado e curto intervalo de
tempo (cerca de uma semana), climatologistas tentam descrever a frequência esperada
e a intensidade dos fenômenos meteorológicos sobre uma escala de tempo bem maior,
como estações do ano, décadas ou até séculos.




Para prever sobre tais escalas de tempo, os climatologistas necessitam entender o estado
atual das forçantes ambientais de grande escala que se desenvolvem lentamente direcionando
o sistema climático. Mas sendo a previsão do tempo uma tarefa de razoável complexidade,
como é possível prever as condições climáticas? Imaginando o sistema climático como um
antigo jogo de pinball ajuda a nos ilustrar porque é mais difícil fazer uma previsão
de um evento meteorológico particular para mais de uma semana do que fazer uma
previsão climática.

Lançando uma bola no pinball, é muito difícil prever o caminho que ela tomará,
bem como o buraco em que ela terminará. A interação de inúmeras variáveis
torna esta tarefa difícil, principalmente depois que a bolinha atinge um ou dois
obstáculos. Assim é como o tempo. Mas depois de jogarmos a bola centenas ou milhares
de vezes e observarmos as trajetórias e os buracos em que terminam, podemos
obter as probabilidades de uma bolinha terminar em um dado buraco. Isto é
como prever a variabilidade climática.





Supondo que mudemos as condições gerais do pinball por inclinar o jogo para
um lado. Esta inclinação certamente afetará as trajetórias e os buracos das
próximas centenas de bolinhas. Se por um lado ainda assim não temos condições
de prever com precisão os buracos que as bolinhas terminarão, pelo menos
aumentamos drasticamente a probabilidade de acertar os buracos onde a
maioria das bolas terminarão. Esta inclinação pode ser temporária, como no
caso de um El Niño. Contudo, ainclinação pode ser mais permanente, como
a ação dos gases de efeito estufa na atmosfera. Tal inclinação mais permanente
seria como o aquecimento global. E assim como no pinball, no clima a magnitude
da inclinação importa.

Para entender o clima e detectar as mudanças climáticas é necessário um grande
período de registro de dados - quanto maior, melhor. A analogia com o pinball
mostra como a previsão de um único evento meteorológico é inerentemente difícil
e porque não devemos basear nossas avaliações climáticas em um único evento.
Dado um registro de dados por um longo tempo e um bom conhecimento do
estado das forçantes que influenciam no sistema, pode-se obter um quadro
probabilístico do clima futuro.

Atualmente, tende-se a diminuir a idéia de aquecimento global a cada nevasca, ou
de promovê-la a cada onda de calor. Contudo, não devemos tecer conclusões
baseando-se somente em dados de um único ano, muito menos em um único
evento.




Nosso conhecimento atual sobre tempo, variabilidade climática e mudança
climática reforça a idéia de que nem todas as partes do globo se aquecerão
da mesma maneira, nem mesmo poderão se aquecer continuamente.


Fonte do texto: Climate Watch Magazine
Figuras: isiria.wordpress.com, climatewatch.noaa.gov, meteorologyclimate.com

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