quarta-feira, 14 de abril de 2010

As nevascas recordes e o aquecimento global

O texto abaixo é um resumo do trabalho de David Herring, Wayne Higgins e Mike Halpert, publicado
na revista Climate Watch Magazine, do NOAA.
A matéria completa está disponível em http://www.climatewatch.noaa.gov/2010/articles/can-record-snowstorms-global-warming-coexist
Dica: SBMET

Podem os índices recordes de nevascas nos EUA e o aquecimento global coexistirem?

As nevascas recordes ocorridas em dezembro de 2009 e fevereiro de 2010 em algumas
cidades dos EUA (especialmente Baltimore e Philadelphia) provocam a seguinte pergunta:
Estaria realmente ocorrendo o tal aquecimento global? A resposta é sim. Outros fatos e fatores
devem ser levados em consideração.

Por exemplo: ironicamente, na mesma época das nevascas recordes em cidades americanas
de latitudes médias ocorreram temperaturas acima do normal em cidades de latitudes altas
do mesmo continente. Em Vancouver, Canadá, este foi o janeiro mais quente da história.
Organizadores dos Jogos Olimpicos de Inverno tiveram que usar caminhões e helicópteros
para trazer neve para as competições de ski e snowboarding.



O que ocorreu entre as cidades americanas e as canadenses mais ao norte não é uma questão
de mudanças climáticas; é uma questão de variabilidade climática. É a variabilidade climática que
explica porque podem ocorrer grandes nevascas em um cenário de aquecimento global.

A previsão do CPC/NOAA para o inverno nos EUA, feita em 15/10, enfatizou o fato de estarmos
sob condições de El Niño, o que levou à previsão de um inverno mais úmido e tempestuoso
para a região mais ao sul e um inverno mais seco para as regiões noroeste e Ohio Valley. Como
previsto, tais condições ocorreram.



Porém, o El Niño não foi o principal agente deste inverno anômalo. Tal papel foi desempenhado
pela Oscilação do Ártico (AO). No início do último dezembro, a AO entrou na sua fase
negativa, deixando o jato polar mais de sul, afunilando os frios ventos árticos em direção
à América do Norte, norte da Ásia e Europa. Este fenômeno explica porque as pessoas
destas regiões experimentaram um inverno tão rigoroso.

No Ártico (e redondezas), a pressão atmosférica oscila entre dois padrões comuns. A fase
positiva têm pressão abaixo do normal no Ártico e pressão acima do normal nas redondezas,
o que tende a manter a região mais fria, com o ar polar limitado à região polar. Já na fase negativa,
sobre o Àrtico persiste a pressão acima do normal e sobre as redondezas uma pressão
abaixo do normal. Esta condição permite que o ar polar escoe em direção às latitudes
mais baixas, baixando a temperatura nestas regiões. Na figura abaixo, observamos a fase
negativa da AO, que ocorreu de dezembro à fevereiro.

No último inverno do HN, as características persistentes da AO foram observadas diariamente,
com os valores mais baixos da história. A manifestação regional da AO referente ao Atlântico Norte,
chamada Oscilação do Atlântico Norte (NAO), também apresentou seus menores valores sazonais
da história.

Sabe-se que tanto o El Niño como a AO quando atuam isoladamante podem causar grande
impacto no clima global. Quando atuam juntos, como recentemente, dominam os padrões
climáticos da estação. A grande quantidade de energia e umidade vindas do Pacífico devido
ao El Niño e o jato polar despejando ar frio nas latitudes médias foram os combustíveis
para as nevascas recordes nos EUA. A figura abaixo mostra os campos compostos de
anomalia de temperatura para os casos em que o El Niño e a fase negativa da AO coincidiram
durante o período de 1950-2009. Nota-se a semelhança com o padrão deste último
inverno.

Logicamente, a variabilidade climática atua nos dois lados, isto é, enquanto algumas
regiões sofrem com invernos anomalamente rigorosos, outras experimentam invernos
anomalamente quentes. Isto é uma prova que as considerações sobre o clima em
uma grande escala temporal não devem ser determinadas a partir de fenômenos
climáticos regionais de curta duração.

Fonte: Climate Watch Magazine (NOAA Climate Services)

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